domingo, 24 de março de 2013

ENTREVISTA DO PARAMORE PARA I LIKE MUSIC

Riffs melódicos de guitarra, refrões fortes pra cantar junto e um estádio balançando muito; a mistura emo-pop do Paramore é um grande negócio.
Liderado pela imitável vocalista de cabelos laranja Hayley Williams, o terceiro álbum Brand New Eyes ficou no topo de listas pelo mundo e ganhou vários elogios (todos listados na página do wikipedia dedicado somente aos seus muitos, muitos prêmios e indicações).
2013 traz o retorno da banda quatro anos depois, com um novo álbum auto-intitulado, sendo o quarto da banda.
O primeiro álbum deles como um trio depois da saída de Josh e Zac Farro, ‘Paramore’ está cercado por um sentimento apaixonado de vigor, liderado fortemente pelo mantra de seu primeiro single, “If there’s a future, we want it Now”.
Em um encontro com a banda para uma longa conversa, nós falamos sobre como o álbum foi feito, o significado por trás das letras, o conselho deles para bandas mais novas, e o que Hayley diria para ela mesma quando adolescente.

Paramore Interview 2013

ILM: Olá, Paramore. Como vocês estão?

Jeremy: Bem. Muito bem! Tudo parece real agora. Parece que nós estivemos fazendo toda essa preparação e esse trabalho, e estamos animados para realmente começar!
Hayley: Sim. Parece que estivemos trabalhando por muito tempo para tudo isso. Uma longa jornada está chegando. Todos nós estamos com muita energia para liberar, sabe.

ILM: Eu acabei de ouvir cinco músicas do novo álbum. Ainda tem muita coisa pra ouvir. São dezessete músicas!
Hayley: A gente tinha ainda mais músicas do que aquilo! Muitas delas a gente nem chegou a gravar.
Jeremy: Nós nunca tivemos muito tempo. Esta foi a primeira vez que nós estivemos no estúdio para ter músicas mais do que o suficiente escritas, então isso significa que esta foi a primeira vez que nós pudemos criar um álbum com o material que temos, sabe, pensar sobre onde queremos levar as pessoas? O que nós queremos dizer?


ILM: Para onde vocês queriam levar as pessoas?
Taylor: Realmente, só levar as pessoas conosco. Onde nós estávamos depois de ficarmos afastados por tanto tempo. Emocionalmente, eu sinto como se isso contasse uma estória. Eu acho que liricamente a Hayley sempre compõe pela experiência.

ILM: As letras que introduziram o novo álbum foram “If there’s a future, we want it now”, e “There’s a time and a place to die but this ain’t it.” De onde elas vieram?
Hayley: O lugar onde eu estava quando começamos a compor o álbum, eu realmente precisava de músicas como essa. Porque depois de passar por… pela vida mesmo, mas também todas as coisas com a banda, todo o drama, foi tipo, eu precisava esperar por alguma coisa, qualquer coisa. O lugar que eu estava, eu não queria estar lá.

ILM: Ambas são grandes afirmações, e mesmo que não pareçam à primeira vista, elas são muito positivas.
Hayley: Existem algumas músicas sobre tudo que aconteceu e eu não acho que alguma delas seja muito negativa, de forma alguma. Nós tivemos um foco no álbum. Eu queria muito, muito avançar em alguma coisa realmente positiva, e não compor músicas agressivas só porque nós podemos ou sabemos como fazer isso, sabe? ‘Now’ foi a primeira música que nós compomos que eu fiquei “uhhhh… Eu disse tudo o que tinha a dizer.” Todos esses sentimentos que vinham se acumulando, acabaram caindo. Eu estava grata por isso. Foi meio como uma declaração para os nossos fãs ouvirem, e para mim, pessoalmente, também.

ILM: Eu acabei de ouvir a música ‘Last Hope’. Você canta sobre como uma última esperança ajudou você a superar alguns momentos difíceis, mas você nunca mencionou exatamente que última esperança é essa. Qual o significado por trás da música? Qual é a sua última esperança?
Hayley: Eu falo por mim, não importa o que… hm. Há muita mudança, muitas inconsistências na vida. Para mim, e eu acho que para nós três, a fé tem sido uma coisa consistente em nossas vidas. Não é uma coisa que acontece com muita frequência na vida. Não há muitas constantes. Então a fé é uma grande constante. É como aquele fio que estávamos pendurados. Sabe, eu acho que ter algum tipo de crença espiritual realmente me levou a não jogar tudo pro alto ou a não desistir de mim mesma, de todos nós. Eu sentia que nós passaríamos por tudo isso por nada, e ser tipo, “Ok, legal. Vejo vocês mais tarde.” Sabe? Estar nessa banda era algo maior do que nós imaginávamos. É a conexão com seres humanos. É ótimo. É essa vida gratificante que somos sortudos por ter.

ILM: Você disse no passado que é relutante em falar sobre a sua fé porque é uma coisa muito pessoal. Ao mesmo tempo, como Taylor disse, você sempre compõe pela experiência. Foi um desafio para você abordar o assunto da sua fé em uma música?
Hayley: Hm… Eu acho que todos nós temos respostas diferentes porque a fé é pessoal. Muito, muito pessoal. Mas, liricamente, eu acho que é importante… bem, eu não acho que algum de nós tenha tentado pregar, sentar as pessoas e dizer “isso está certo, isso tá errado”. O dia que começarmos a fazer isso, vai ser para quase nada. Fé é pessoal. Existem maneiras de fazer isso e ser um pouco menos pessoal, e isso está em músicas como ‘Last Hope’. Então, as pessoas podem se prender a isso e tirar o que precisam.

ILM: ‘Ain’t It Fun’ contém a letra “Não é divertido viver no mundo real”. O quão difícil foi para vocês viver no mundo real? Para se ajustar nele todos os dias de suas vidas? Vocês têm tido um sucesso enorme como Paramore. Não são muitas pessoas que conseguem coisas como vocês conseguiram.
Jeremy: É meio difícil pra gente se ajustar novamente em coisas normais! Só porque… nós trabalhamos muito. Estamos fora o tempo todo. Não estamos aqui, estamos ali. Estamos em todo lugar. Se não estivermos fazendo isso, então estamos tentando encontrar algum ponto criativo em nossas cabeças para compor outra música e começar tudo de novo. Então eu acho que foi muito difícil pra gente no começo. Levou muito tempo pra gente se ajustar. Mas assim que nos ajustamos, digo, nós amamos poder ter nossas próprias vidas. Estar em casa e começar a criar uma rotina para você mesmo ao invés de uma que alguém acabou de deixar por baixo da porta!
[Risos da banda]

Paramore Interview 2013

ILM: Para muitos de seus fãs, a música de vocês sempre respresentou um espírito alternativo. A ideia de que está tudo bem em ser você mesmo. Dito isso, por acaso existe essa coisa de ser normal?
Jeremy: Se existe, então não queremos ter nada a ver com isso.
Hayley: Normal é chato. Eu não acho que algum de nós já foi normal. Digo, você deveria ver as fotos de formatura do Jeremy! Hahahaha!
Jeremy: Hahahaha! Elas NÃO são normais. Eu era tipo o Kid Rock. Em um dia ruim.
[Risos da banda]
Hayley: É.. Nós hm… Eu acho que todos nós encontramos a música porque não éramos exatamente certos. Nós éramos um pouco desajustados. É muito empolgante encontrar com fãs mais jovens. Muitas bandas não dão valor por ter fãs jovens porque é tipo, “Oh, eu quero críticos de arte vindo aos meus shows e escrevendo sobre o quanto eu sou ótimo.” Eu sinto isso das pessoas e fico tipo, “você realmente deveria acolher pessoas jovens vindo aos seus shows, porque você já foi um deles, eu era um deles.” Quero dizer, quando eu encontro um adolescente, talvez uma garota, de quatorze ou quinze anos vindo aos nossos shows e ela tem mechas azuis no cabelo, ou ela está com glitter pelo rosto, ou está usando meias coloridas diferentes, eu fico tipo “Obrigada, Deus, ainda existe personalidade por aí e as pessoas não perderam a originalidade.”

ILM: A música ajuda as pessoas a abraçarem suas individualidades?
Hayley: Absolutamente. Nós dizemos na comunidade musical, especialmente nessa comunidade alternativa que nós meio que estamos incluídos, nós realmente dizemos o quanto é importante abraçar sua individualidade. Mas é difícil. É mais do que isso. Você vai à escola ou ao trabalho e todo mundo parece ser a mesma coisa, e é mais difícil do que parece sair disso e fazer do seu jeito. Música é um lugar ótimo e positivo para encontrar esse lado de você mesmo.
ILM: Tendo crescido e encontrado confiança para ser você mesma, o que você diria a você mesma quando adolescente?
Hayley: Ai meu Deus! Eu diria: garotos são perda de tempo! Hahaha. Hm, digo, honestamente, eu diria que não existe uma definição do que é perfeito. Não existe definição do que é legal, porque isso tudo é realmente subjetivo. Isso volta no que o Taylor estava dizendo. Você tem que viver no presente. Isso não significa que você não pode lutar pelas coisas, e metade do álbum é sobre isso. Lutar pelo o que pode vir, ou lutar por esperança. Mas realmente entender que hoje é o melhor dia que você tem. É o mais longe que você chegou na sua vida, e você deveria estar feliz por isso.

ILM: O disco foi produzido por Justin Meldan-Johnsen. Ele tocou como baixista para Beck e Nine Inch Nails e antes de trabalhar com vocês ele produziu o último álbum do M83 ‘Hurry Up We Are Dreaming’. Em uma entrevista para a “Eletronic Musician” sobre os planos dele para o seu álbum ele queria que isso soasse profundo, menos bloqueado e computadorizado. Mais 1981 do que 2012, com um aceno pra 2016. Vocês chegaram nisso?
Taylor:  Acho que ele está muito a frente de nós! Hahaha!
Jeremy: Ele está em 2025!
Taylor: Eu não estou totalmente certo do que ele quis dizer com aquilo, mas…
Hayley: Eu amo isso!
Taylor: Sim! haha Eu amo isso! Eu quis dizer. Sim, nós definitivamente chegamos nisso.
[Risos da banda]
Taylor: Ele constantemente nos impulsionou. Ele queria nos igualar. Ele fez tantos projetos diferentes, muita música diferente da nossa. Ele queria nos dar novas maneiras de pensar, de criar, de realmente nos tirar daquelas rotinas que estavamos presos. Foi incrível. Nós não teríamos feito o mesmo álbum sem ele. Não teríamos pego nada disso de volta.

ILM: O que foram essas experiências pra vocês? Novas maneiras de pensar, de criar?
Hayley: Era como se cada dia fosse novo em folha. Fazendo isso, parecia que realmente éramos uma nova banda. Muitas bandas não chegam a sentir isso, principalmente com quatro discos. Uma coisa que foi diferente, foi ter muito tempo. Nós gastamos três e às vezes quatro bons dias trabalhando em cada música. E foi assim que gravamos, uma música de cada vez. Bem, fizemos toda a bateria primeiro. Então fomos ao estúdio do Justin e cada música levou três ou quatro dias para o baixo, guitarras, sintetizadores e produções extras, e aí eu fiz meus vocais.

ILM: O que mais aquele tempo extra trouxe para suas músicas, além de mais tempo para fazer cada parte?
Hayley: Foi sobre realmente deixar cada música ter seu próprio mundo. A atmosfera ficou diferente para cada música e nós deixamos aquilo acontecer. Nós deixamos as músicas nos levarem para onde elas queriam ir. Por mais brega que isso soe! E funcionou. Foi a medida certa e foi a hora certa para nós, como uma banda para irmos para essa rota.

ILM: Como você gosta de gravar seus vocais? Você precisa chegar a um certo “espaço mental”? Você precisa de muito tempo ou simplesmente chega pronta?
Hayley: Eu tento estar muito bem e pronta porque eu acho que , se eu não conseguir fazer nos três ou quatro primeiros takes eu não consigo. Muitos cantores são melhores em repetir isso. Para mim, se eu não estou sentindo isso, então é algo como “eeeergh”. Eu fico desencorajada. Na verdade, eu quis gravar na sala de gravações com todos porque…
Jeremy: Ela sente falta de nós!
Hayley: Ooooh! hahaha!
Jeremy: Como um macado enjaulado na sala ao lado.
Hayley: Sim, eu realmente estava. Mas nesse momento, eu me senti como se houvesse menos pressão. Nós demos espaço e tempo para tudo. E eu usei um microfone diferente, tudo foi meio que… novo.

ILM: Eu vi a tracklist e fiquei intrigada com as três “Interludes”. O que vocês podem nos dizer sobre estas?
Hayley: Hum… elas são apenas pequenas cantigas. Tem um ukulele (instrumento de corda semelhante a viola) envolvido.
ILM: Ooh, muito bom!
Taylor: Haha! Bem, eu tento. Quando nós começamos a escrever para o álbum, nós tentamos escrever músicas como fizemos no passado. Então haveria um riff de guitarra energético e melódico, com guitarras pesadas e refrões grandes… muito complicado.  E nós não estávamos inspirados. Mas isso era o que estávamos acostumados a fazer. Então nós escrevemos as “Interludes” quando realmente não sabíamos o que fazer.  Elas foram uma maneira de passar por aquilo. Tipo, ok, nós vamos usar o ukulele em uma música, tocar uma linha de baixo zoada e cantar letras bobas. Acho que tendo as “Interludes” , nos fez colocar o álbum junto, de uma maneira diferente.  Eu não sei. Só acho que elas tiveram que ser escritas em ordem, para que nós pudéssemos escrever o restante das músicas. Não sei porque, mas no instante em que as terminamos, meio que decolou.
Hayley: Há muito humor nelas. Eu acho que foi bom para nós porque havia dias em que nada dava certo e nós precisávamos de algo pra quebrar aquela sensação e mostrar que isso é divertido. É isso que estamos fazendo, é isso que amamos.

ILM: Qual conselho vocês dariam para bandas que estão começando? Bandas que se inspiram em vocês e no sucesso que vocês têm?
Taylor: Hum, algumas vezes… Eu acho que as pessoas tendem a levar elas mesmas muito a sério. Eu acho que ser uma banda, ser um artista, você pode adaptar a sua mentalidade onde você estiver, tipo, “eu quero realizar isso, eu quero tocar para essa quantidade de pessoas, eu quero escrever canções pesadas.” Eu acho que realmente pode tirar desse momento. Eu acho que nós experimentamos isso. É realmente muito legal tocar em grandes shows, nós amamos isso, mas não é melhor do que tocar em shows menores. Eu acho que as pessoas devem aproveitar onde estiverem. Se você está em seu quarto escrevendo e você tem essa incrível experiência emocional e seu coração está cheio, apenas sendo capaz de viver no presente e estando animado e então escreve coisas que você acredita.

ILM: Fica mais difícil de se manter conectado à música, a aquelas experiências emocionais quando os shows ficam maiores e a banda fica mais famosa?
Hayley: Nossa banda já esteve em shows muito, muito cheios e muito, muito vazios. É engraçado. Eu estou crente que você aprende mais através das coisas difícil, tão doloroso quanto algumas coisas são. Mas a música, para nós, por um longo tempo, foi a única coisa que nós gostávamos nisso. E também quando nós conhecíamos nossos fãs, esse é realmente um sentimento incrível. Mas havia noites que nós não estávamos felizes até nós chegarmos ao palco e tocar. Então, música vem sendo o caminho. Agora com este álbum, sabendo como nós gostamos de fazer… Foi tão puro, foi uma experiência crua. Eu estava realmente agradecida por isso. Eu estou realmente agradecida por sentir essa animação. Você realmente não sabe, você realmente não se importa com o que vai acontecer. Você simplesmente sabe que está fazendo o que gosta.

ILM: O que o futuro guarda para o Paramore?
Jeremy: Eu acho que nós estaremos sempre felizes se nossos fãs forem aos nossos shows. Para ser honesto, é por isso que nós fazemos isso. Nós fazemos músicas para nós também, essa é a parte criativa, mas enquanto nós tivermos fãs lá fora e pudermos fazer shows para eles, é isso que nós queremos.

ILM: Em vinte, trinta anos, vocês acham que ainda serão músicos?
Hayley: Uau! Quem sabe?
Taylor: Yeah. Quem sabe, né? Esperamos que sim! Nós queremos fazer isso o enquanto nós realmente acreditarmos nisso e as pessoas possam nos ver nos palcos e enquanto acreditarmos no que estamos dizendo e em nossa emoção. Eu acho que o minuto que nós perdemos de vista, provavelmente possa ser o fim. Mas sim, com certeza. Nós queremos tocar em grandes shows, nós queremos ir a novos lugares como qualquer banda, mas não acredito que esse seja o objetivo principal. Ouvindo certos álbuns, desde que nós estávamos na escola ou quando éramos adolescentes, nós tínhamos esse senso de sobrecarregamento de nostalgia, você sabe, “isso é o que me fez ficar apaixonado pela música.”  A ideia que podemos ser isso para alguém é apenas inacreditável. É humilhante. Então, nós podemos esperançosamente continuar nos conectando.

ILM: Por último, o ukulele estará no palco?
Taylor: Oh, pode apostar que estará!
Paramore lançará seu quarto álbum ‘Paramore’ dia 8 de abril de 2013 (Europa)
Entrevista por Kim Hillyard.

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